Proposta pelo vereador Paulo Oppa (PT) e presidida pelo companheiro de bancada Ivan Duarte, a audiência pública sobre a saúde dos trabalhadores dos frigoríficos no RS oportunizou a apresentação dos resultados alarmantes do projeto "Atenção às Lesões por Esforço Repetitivo dos Trabalhadores da Alimentação" (Alerta). A conclusão da pesquisa é preocupante principalmente no que concerne às condições precárias e ao ritmo acelerado de produção. Como conseqüência, as enfermidades em funcionários das indústrias de carne chegam em massa ao SUS e afastam o grande contingente dos chãos de fábrica.
Discursaram, sobre o estudo, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Pelotas, Elton Oliveira Lima; o presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do RS (FTIA-RS), Darci Pires; o pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Albuquerque; e o coordenador regional/CUT Sul, Edelmar Dias Vieria.
O Alerta consiste num projeto coletivo destinado à formação de um diagnóstico que permita aos sindicatos e a FTIA-RS apropriarem-se da tecnologia de pesquisa a fim de replicar esta ação em diferentes momentos. Conforme Albuquerque, tornou-se, neste setor, imperativa a construção de um banco de dados sobre as condições concretas de trabalho e de vida. Entre os profissionais na ativa e afastados – bem como aposentados – por motivos de doença, participaram da pesquisa os funcionários da produção dos abatedouros de carne de cinco cidades do estado: Pelotas, Bagé, Alegrete, São Gabriel e Santa Maria.
O perfil do trabalhador lesionado, de acordo com as palestras, decorre, em resumo, de ritmos fortemente acelerados de trabalho – confirmados por exemplos expostos, como o abate de 10 animais por trabalhador em apenas uma hora –; da falta de equipamentos e uniformes adequados; do alto índice de insalubridade sem remuneração extra; do manuseio de instrumentos perigosos e da demanda de um alto índice de concentração; movimentos repetitivos e contínuos durante longos períodos; e da ausência de rodízios ou revezamentos.
Por conseguinte – destaca Darci Pires, secretário da Federação –, em menos de seis meses 80% dos funcionários passam a utilizar sistematicamente analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos e 20% do universo total são usuários de medicamentos controlados, como antidepressivos e tranqüilizantes.
Projetando uma tabela com a relação dos percentuais dos sintomas de Lesões por Esforços Repetitivos (Ler) e Doenças Relacionadas ao Trabalho (Dort), Albuquerque acentuou a marca dos 42% dos empregados que acusam cansaço insuportável após a jornada. Do total pesquisado, 50% sentem tremores no corpo ao chegarem em casa e 67,1% agitam as mãos porque estavam "adormecidas" ou "formigando". "O Alerta não é uma pesquisa inocente ou ingênua; não se pode reduzi-lo, porém, a denúncias e há de lembrar-se sempre que, quando se compra carne, adquire-se também a saúde do trabalhador", analisou o pesquisador.
Para o vereador Ivan Duarte (PT), os dados do estudo são sintomáticos em razão de espelharem uma fase industrial capitalista embrionária, ou seja, "selvagem": "Existem regras e leis, mas, como não são cumpridas pelo empresariado, parece que se vive num estágio inicial do sistema regido pelo 'capital' em que a exploração e as condições desumanas preponderam", afirmou.
No que diz respeito à pesquisa encomendada pelas entidades, Elton Lima explica que, apoiada pelas universidades, serve de instrumental para gerar políticas públicas. "Não adianta alterar jornadas se não houver mudanças no ritmo de trabalho", alerta o presidente do Sindicato da Alimentação. Ademais, como se não bastasse, informa Lima, ocorre uma espécie de "maquiagem" por ocasião das visitas de vigilantes do Ministério do Trabalho, por exemplo. Como são agendadas, a classe patronal espera os funcionários do governo de forma diferenciada: somente nestes dias, denuncia, fornece roupas e material de segurança conforme exige a lei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário